Ao realizar rápida uma pesquisa em bancos de dados, conseguimos verificar que a Bahia liderou em quantidade de mortes violentas no início de 2023. Durante o período de janeiro a março deste ano, houve o registro de 1.289 óbitos relacionados a feminicídios, homicídios dolosos, latrocínios ou lesões corporais seguidas de morte.
No último mês, a Bahia foi assolada pela violência e pelo medo. Neste período, diversas ações policiais foram realizadas nas periferias de Salvador e em cidades da região metropolitana e resultaram em mais de 30 óbitos.
A situação evidencia um aumento contínuo desde 2015, quando o estado registrou 354 mortes resultantes de intervenção policial. O auge desse quadro foi no ano passado, onde, de acordo com dados do Fórum de Segurança Pública, o número de óbitos aumentou drasticamente para 1.464. O estado superou o Rio de Janeiro, assumindo a liderança do ranking nesse aspecto.

Os números relacionados à violência estão sempre entrelaçados com os aspectos econômicos da região. A Bahia permanece como um dos estados brasileiros com um dos mais elevados índices de desigualdade. A disparidade social motiva muitas pessoas a ingressarem no tráfico de drogas, um crime frequentemente associado a latrocínios e homicídios, por exemplo.
Abertamente falando, não podemos atribuir exclusivamente a esses conflitos a escalada da violênciaocorrida início no segundo semestre deste ano. Por anos, a Bahia tem enfrentado uma alta taxa de homicídios, indicando um processo prolongado de políticas inadequadas.
Mas em termos honestos, qual a explicação para tamanha violência?
Em síntese, além da disputa territorial entre as facções, os principais problemas incluem a violência policial e a opção pelo confronto armado como principal política de segurança pública nos governos do PT, cujas maiores vítimas são, lamentavelmente, a população negra.
Durante anos, governadores do PT optaram por manter uma ‘política de continuidade’ em relação aos governos anteriores, conhecidos como ‘carlistas’ devido à sua proximidade com o político Antônio Carlos Magalhães, que governou a Bahia por 12 anos. Em outras palavras, os governos do PT não alteraram a abordagem carlista de considerar a letalidade como um indicador de eficácia policial. Em vez de investir em inteligência e melhorar a capacidade de investigação e resolução de crimes da Polícia Civil, essas administrações focaram em unidades de elite da PM, priorizando o confronto armado.
A Bahia, é o estado mais afrodescendente do Brasil e tem sua elite política e econômica composta em grande parte por indivíduos brancos que promovem a criminalização do corpo negro por meio do controle de territórios e pela denominada guerra às drogas.
Aguardamos inovações por parte do atual governo do estado, que devem se lastrear nas diretrizes políticas do campo ao qual pertencem. Como militante e defensora de direitos humanos, afirmo que não podemos ser cativos de projetos de direita na esfera da segurança pública. Nosso plano deve fortalecer as organizações civis e estar atento às demandas da sociedade, sem aderir ao formato do populismo penal.
Por: Advogada Monaliza Sales
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