Quem é o garoto de 11 anos que estrelou programa de Luciano Huck e já foi aprovado na faculdade
Justiça reconheceu superdotação da criança, que pretende cursar Matemática; salto de etapas é previsto pela lei, mas mudança tão grande traz riscos de adaptação.
“Fiquei eufórico”, diz Luan Gama, sobre a aprovação no curso de Matemática na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A reação não surpreende, mas a idade do futuro calouro é que chama a atenção: 11 anos. Aluno da rede pública e ex-participante do quadro Pequenos Gênios, do Domingão do Huck, o garoto conseguiu na Justiça o direito de ingressar no ensino superior 1. Na sentença, foi reconhecida a superdotação da criança. Esse salto de etapas é previsto pela lei para esses casos, mas especialistas ponderam sobre os riscos de um salto tão abrupto e os desafios de adaptação.
“Quando vi, fiquei muito feliz porque achei que não ia passar. Pelo gabarito, acertei metade das questões. Pensei que não ia ser suficiente, mas foi a redação que me salvou”, disse Luan, acompanhado pela família, ao Estadão.
A mãe, Lara Gama, afirmou que Luan se interessou pela faculdade quando viu uma notícia de que um adolescente de 14 anos havia sido aprovado em um vestibular.
“Ele mesmo pesquisou sobre vestibular, achou um cursinho preparatório aqui perto de casa e fui lá com ele falar com a administração. Receberam o Luan e ele ficou em uma turma com adolescentes de 15 anos. Ele se adaptou muito bem e até se destacou, porque dominava os assuntos”, comentou ela, orgulhosa. A família vive em Manaus.
Após a decisão da Justiça estadual, o menino agora se prepara para realizar provas de aceleração na Secretaria de Educação do Amazonas (Seduc-AM). Caso seja aprovado, ele receberá os diplomas de formação nos ensinos fundamental e médio, necessários para a matrícula na universidade.
Segundo a mãe de Luan, ainda não há data para os exames, mas o limite para apresentar os diplomas à universidade é 15 de fevereiro deste ano. Embora exista receio sobre mais uma avaliação, a expectativa é de que o pequeno seja aprovado.
Luan tem mais de 220 mil seguidores em sua página no Instagram (@eu_luanatico), ganhou repercussão nacional quando participou, em julho de 2023, do programa de Luciano Huck, da TV Globo.
Dentre as habilidades que fazem com que ele se destaque, estão o fato de que aprendeu a ler com 3 anos. Segundo a família, Luan acumula conhecimentos em Matemática, Raciocínio Lógico, Português e Geografia.
O estudante, ainda conforme os parentes, sabe ainda identificar as bandeiras e a localização de todos os países; domina cálculos matemáticos, como raiz quadrada e potências; além de soletrar palavras em diferentes níveis de dificuldade, inclusive de trás para frente.
A criança iniciaria o 6º ano do ensino fundamental em 2024 e, segundo a mãe, ganhou uma bolsa integral em uma escola particular. Caso o pequeno não consiga os diplomas necessários para ingressar na universidade, ele deverá seguir os estudos na instituição privada.
O reitor da UEA, André Zogahib, diz que a instituição está preparada para receber Luan. Segundo o dirigente, partiu da própria universidade a orientação para que a família buscasse assegurar a vaga pela justiça.
“Encaminhamos a mãe dele para uma ex-aluna nossa, que é da Defensoria Pública, e ela recebeu o Luan e a família”, afirma.
A instituição tem um Núcleo de Necessidades Especiais e Superdotação. “É coordenado pela professora Andreza Belota, que tem sua tese e carreira voltada para a questão da superdotação. O trabalho é normalmente voltado para alunos com deficiência, como cegos, surdos ou com deficiência motora, mas também atende às necessidades de alunos com superdotações”, diz Zogahib.
Lei federal prevê aceleração, mas casos são raros
Para a professora de Direito da Universidade de São Paulo (USP) Nina Ranieri, a sentença é adequada à Lei de Diretrizes e Bases, mas casos assim não são comuns. “Observa-se que o juiz se preocupou em fundamentar bem a decisão. Ele reconhece não só o direito do menino como alguém com altas habilidades, mas também ressalta questões sociais que envolvem o caso.”
“Essas crianças têm direito a atendimento especializado”, afirma ela, também membro do Conselho Estadual de Educação paulista.
Salto é muito abrupto, diz pedagoga
Psicóloga e pedagoga, Ariane Batista chama a atenção para algumas barreiras que podem ser enfrentadas no processo.
“A aceleração pode causar um desconforto devido à diferença de faixa etária com os colegas, diferença de maturidade e afins. Além disso, é possível que o aluno não acompanhe todas as disciplinas da série igualmente, uma vez que ele pode ter facilidade em uma disciplina e dificuldade em outra”, pondera.
Na opinião dela, seria mais adequada uma a adaptação precisa ser gradual. O ideal é que a criança fizesse uma aceleração de dois anos, fosse acompanhada por profissionais, e depois de um ano seria possível pensar sobre nova aceleração. Eu não recomendaria a aceleração de tantos níveis, é um rompimento muito abrupto”, comenta.
Por outro lado, segundo Ariane, a permanência de um aluno superdotado em uma turma da sua faixa etária pode causar problemas de socialização, comprometendo a saúde mental do estudante.
“É importante considerar que o educando já domina o conteúdo apresentado em seu grupo, no seu período escolar atual, então não há motivo para permanecer nele. Além da frustração que isso pode acarretar, pode haver problemas de interação com seus pares e professores”, afirma.
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar informou que “ainda não recebeu a notificação judicial contendo determinação judicial referente ao avanço escolar do estudante Luan Gama”. “No entanto, assim que ocorrer a notificação pelos meios oficiais, todas as providências em relação ao caso serão tomadas por esta Secretaria.”
“Vale ressaltar que o Estado do Amazonas não aplica automaticamente avaliações para conclusão aligeirada do Ensino Médio, atendendo ao que versa a resolução n° 150/2010 do CEE/AM. Entretanto, possui orientações e estratégias para a execução da ação por meio de decisão judicial.”
Procurado para comentar o caso, o Ministério da Educação (MEC) não se manifestou até a publicação da reportagem.
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