Melhor Segunda-Feira do Mundo teve, na última noite (9), a sua primeira edição do verão 2023. O evento realizado na Fonte Nova recebeu, de acordo com organizadores, mais de 30 mil pessoas. O anfitrião, Xanddy Harmonia, recebeu ícones do pagode do Rio de Janeiro e de São Paulo: Sorriso Maroto, Belo e Péricles, que festejaram o reencontro com o público de Salvador.
O grande público se divertiu a noite toda em uma Fonte Nova com poucos espaços vazios em todos os seus setores. Apenas uma reclamação foi constante: o som não chegou com a mesma qualidade em todos os lugares da festa. Nas proximidades de onde costuma ficar o famoso “gol do Dique do Tororó”, foi mais difícil ouvir as apresentações. Mas nem por isso alguém ficou sem curtir seus ídolos, com os clássicos gritados à plenos pulmões.
O cantor Péricles, também da escola paulista do samba, foi um dos mais festejados. Em 2019, o artista chegou a gravar seu DVD “Mensageiro do Amor” na Fonte Nova e disse ao BN que não foi ele quem escolheu o local. Foi a Bahia quem o escolheu.
Quem abriu a Melhor Segunda-Feira foi a banda carioca Sorriso Maroto. O vocalista, Bruno Cardoso, celebrou o carinho com que o pagode do Rio de Janeiro é recebido em Salvador e revelou que a admiração pelos baianos também acontece no Sudeste do país.
A harmonia entre os pagodes da Bahia e do Sudeste brasileiro é uma marca da Melhor Segunda-Feira do Mundo. Os grandes artistas do samba do Rio e de São Paulo volta e meia são convidados por Xanddy e atraem grandes públicos para o mais famoso ensaio do verão de Salvador. As diferenças e semelhanças entre os dois estilos regionais foram comemoradas por Bruno Cardoso e por Péricles.
“A gente caminha pelo mesmo caminho e tem o mesmo objetivo, que é chegar no coração de quem ouve. É isso que o som do Sorriso Maroto, do Belo, do meu, do Ferrugem, do Xanddy, do Léo, do Tchan, de todos eles. Nós percorremos o mesmo caminho e chegamos no mesmo objetivo, que é o coração de quem nos ouve”, avaliou Péricles.
A VOLTA DO SAMBA DE RODA
Aqui na Bahia, o samba percorreu um caminho diferente do restante do país. Os baianos que levaram o ritmo para o Rio o transformaram num gênero urbano, diferente do estilo rural que predominava no Recôncavo.
Em território carioca, o samba recebeu mais influências da cultura banto, como a congada. No entorno da Baía de Todos-os-Santos, porém, a herança iorubá sobressaiu e o ritmo evoluiu para a chula em Santo Amaro e para o samba duro em Salvador, que deu origem ao Gera Samba (atual Tchan), Terra Samba e Harmonia do Samba.
Com o sucesso dessas bandas nascidas nos anos 1990, a linha evolutiva do samba baiano disparou, resultando no groove arrastado consagrado por Parangolé e Fantasmão e também no mais recente “pagofunk”.
Entretanto, em 2022, o samba duro voltou à pauta, com o lançamento do “Samba do Polly”, música d’O Polêmico, que foi incluída por Xanddy Harmonia em seu repertório. O artista, nascido e criado na Capelinha de São Caetano, quer ver o ritmo baiano voltar às suas raízes.
“A gente reservou um momento para fazer um samba de roda. O Samba do Polly já é um samba de roda e a gente botou uma roupinha mais nossa nele. A letra, eu segurei a onda. Eu gosto de todas essas revoluções. Me incomoda um pouco a coisa da conversa, algumas coisas podem ser um pouco mais cuidadas. Mas o nosso pagode, o nosso ritmo, é forte e vai agradar o mundo inteiro sempre. Ele bate lá no Japão e o japonês começa a se balançar, isso é inevitável”, afirmou o ex-vocalista do Harmonia do Samba.
Xanddy reconheceu que observa com atenção às mudanças ocorridas no pagode da Bahia e assumiu que absorve muito das novidades lançadas no mercado, mas confessou que sonha com o retorno do samba de roda e do samba duro para as caixas de som das periferias de Salvador.
“O meu desejo é que a gente encontre um meio termo entre tudo isso, mas que a gente resgatasse bastante o nosso samba de raiz. Queria muito que essa turma jovem – que está fazendo um som diferente, que tem essa derivação do groove arrastado – conhecesse. Mas eu sei que é uma geração nova. Eu vivo isso em casa. Meus filhos e sobrinhos conhecem do ano X para cá, mas eu gostaria muito que eles fossem beber lá na fonte e esse resgate fosse feito dentro dos guetos, do nosso samba duro, do nosso samba de roda, que é tão gostoso e agrada tanto até hoje”, disse Xanddy.
Para ele, o sucesso d’O Polêmico em 2022 é a prova de que o samba raiz não saiu de moda e que sempre irá agradar públicos no mundo inteiro.
“Está aí o Samba do Polly, para confirmar o que eu estou falando. Ele já é um samba de roda, com uma conversa mais moderna, mais pesadinha, mas o ritmo não tem jeito: vai agradar sempre”, concluiu.
Via: BN
Foto: Max Haack/Ag Haack
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