A segunda pesquisa ISTOÉ/Sensus, que ouviu 2.000 eleitores no período de 8 a 11 de abril, já sem o ex-juiz Sergio Moro como candidato, constatou que Jair Bolsonaro (PL) não conseguiria se reeleger, mesmo que fosse para o segundo turno, em razão de sua alta rejeição (53,9%) e da desaprovação recorde de seu governo: 59% dos eleitores consideram ruim sua gestão. Segundo o levantamento, o mandatário é o mais rejeitado entre os 11 pré-candidatos que já se apresentaram até aqui para a disputa. Lula, o líder da pesquisa, tem uma rejeição de 37,9%. De acordo com o cientista político Ricardo Guedes, presidente do Instituto Sensus, nenhum candidato com uma rejeição tão alta como a do ex-capitão consegue se eleger na segunda rodada da votação. Acrescente-se a isso o fato de Bolsonaro também ter uma péssima avaliação no governo. Apenas 27,7% consideram a administração ótima ou boa, enquanto 44,8% julgam-na ruim ou péssima. “Abaixo de uma avaliação positiva de 40%, o desempenho de um candidato torna sua candidatura inviável”, diz Guedes, explicando que a margem de erro é de 2,2% para mais ou para menos. Os pesquisadores estiveram em 108 municípios de 24 estados e o levantamento está registrado no TSE sob número 01631/2022.
A vantagem petista
Em termos de posicionamento dos candidatos mais bem avaliados pelos eleitores, a pesquisa ISTOÉ/Sensus não difere muito das demais divulgadas até agora por outros veículos de comunicação, mas, faltando seis meses para o pleito, muita coisa ainda deve mudar, especialmente depois de 18 de maio, quando os partidos da terceira via (PSDB, MDB, União Brasil e Cidadania) devem apresentar um candidato único para enfrentar os dois líderes da corrida presidencial. Conforme o levantamento, Lula lidera a disputa com 43,3%, seguido por Bolsonaro, com 28,8%, por Ciro Gomes (PDT) com 6,3%, e por João Doria (PSDB) com 2,6% das intenções de votos. A notícia boa para Doria é que ele aparece empatado tecnicamente e dentro da margem de erro com Ciro. Em quinto, surpreendentemente, está o deputado André Janones (Avante), do baixo clero, com 2%. Depois vêm Vera Lucia (PSTU), com 1,1% e a senadora Simone Tebet (MDB), com 0,8%. De acordo com Guedes, esses números dão ao petista a marca de 50,8% dos votos válidos, tirando-se da conta os 7,8% dos votos brancos/nulos e 7,1% dos que disseram não saber ou não responderam em quem pretendem votar. “Com o atual quadro, Lula poderia ser eleito no primeiro turno se a eleição fosse hoje”, cravou o presidente do Instituto Sensus.
A vantagem do petista se espalha também nos cenários de segundo turno. Lula venceria todos os seus oponentes. Bolsonaro estaria em empate técnico, dentro da margem de erro com Ciro Gomes e João Doria. O ex-presidente também é o preferido pelos eleitores para vencer a eleição, mesmo entre os que não votarão nele. A pesquisa apontou que 52,7% dos entrevistados dizem acreditar que ele será eleito presidente, enquanto apenas 31,2% acham que Bolsonaro deve ser reeleito. Os candidatos da terceira via ainda não aparecem com destaque, mas está evidente que há um bom espaço para crescimento. Segundo a pesquisa, 30,9% admitem que podem vir a votar em um dos representantes dos partidos alternativos à polarização. Por ora, 57,3% dos eleitores dizem que já definiram em quem votarão, embora 22% afirmem que ainda não definiram o voto e outros 17,5% tenham dito apenas ter preferências em quem votarão, sem uma definição sobre qual tecla apertarão na urna eletrônica em outubro.
Nos cruzamentos de dados, Lula lidera nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste, enquanto Bolsonaro lidera somente no Sul. Lula tem mais votos femininos do que masculinos e Bolsonaro mais masculinos do que femininos. O petista lidera ainda entre todas as idades e é o preferido entre a população de renda mais baixa. Já Bolsonaro tem vantagem na população com escolaridade e renda mais altas. O que dá para entender por que Lula disse recentemente que a elite brasileira é “escravista” e a classe média ostentadora.
A vida piorou
As dificuldades de Bolsonaro se expressam também na economia, onde os eleitores consultados pelo Sensus mostram que a política econômica é desastrada. De acordo com os eleitores consultados, 59,8% consideram que o País está no rumo errado, enquanto somente 25,9% consideram que o País está no rumo certo. Nos últimos quatro anos, segundo a pesquisa, a qualidade de vida piorou para 49,1% das pessoas e melhorou para 29,6%. Para 20,6%, a vida está igual.
Se a eleição fosse hoje, Bolsonaro não seria reeleito, em função de sua alta rejeição (53,9%) e de sua enorme reprovação no governo
A inflação, contudo, tem castigado a população e afetando a vida de 87,9% das pessoas, sobretudo as mais pobres. Apenas 9,6% acham que a inflação não os está afetando e 1,7% consideram que a situação está mais ou menos ruim. Os constantes aumentos do preço da gasolina, o grande vilão da inflação e da carestia que está levando muitas famílias à desestruturação, são atribuídos ao governo federal por 31,8%, aos governadores por 19,5%, e à Petrobras por 18,1%. Mais uma vez, percebe-se que o calcanhar de Aquiles desta campanha eleitoral será a economia. E, nesse campo, Bolsonaro deve perder de lavada. Tanto os candidatos de centro, quanto Lula, devem concentrar suas baterias nesses temas.
Embora os problemas econômicos ganhem destaque na pesquisa (o desemprego é o segundo item de preocupação de 14,5% da população e a inflação é o terceiro, com 11,3%), a saúde ainda é o principal problema do País para 40,7% dos eleitores. Isso acontece certamente pelos reflexos da maior pandemia já vivida pela humanidade. Apesar dos números de casos e de mortes por Covid-19 terem sofrido uma queda brutal, os eleitores certamente serão lembrados na campanha que Bolsonaro foi negligente em relação à doença e mostrou-se refratário a dar início à vacinação. Nesse ponto, o ex-governador de São Paulo, João Doria, tem espaço para crescer, pois ele é considerado “o pai da vacina”, por ter produzido a Coronavac no Instituto Butantan, vindo a tornar-se o primeiro imunizante aplicado no País.
A educação, com 10,3%, e a corrupção, também com 10,3%, são outros setores que preocupam a população. E de acordo com a percepção dos eleitores, a corrupção aumentou 41,6% durante o governo Bolsonaro, enquanto 36,3% entendem que a corrupção diminuiu no atual governo. Para 14,5%, a corrupção está igual e não sabem ou não responderam com 7,7%.
Para 41,6% dos eleitores, a corrupção aumentou durante o governo de Jair Bolsonaro, que também é culpado pela alta da gasolina
Apesar dos eleitores estarem optando até aqui pela polarização entre Lula e Bolsonaro, os dois também são lembrados como os maiores responsáveis pela radicalização do País. De acordo com a pesquisa, Bolsonaro é apontado por 41,1% das pessoas como o principal responsável pela radicalização, enquanto o PT é responsabilizado por 28,4%. Outros 11,3% consideram que ambos têm culpa e só 2,4% acreditam que a radicalização vem de outros atores da política nacional. Por isso mesmo, 62,8% consideram que a pacificação do País é imprescindível. Já para 17,5% dos eleitores, a pacificação não é imprescindível, 14,1% não souberam responder e outros 5,6% consideraram mais ou menos imprescindível. O eleitor brasileiro, como se vê, quer tudo, menos Bolsonaro.
Matéria Reprodução: Istoé.com.br
ilustração: Leezio Júnior
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