Muitos caciques políticos do Nordeste — que apoiaram e até fizeram parte dos governos do PT de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff — estão hoje aliados ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Longe de serem apoiadores orgânicos a pautas de costumes ou de armamento civil, eles ajudam a dar sustentação ao governo.
Em troca ganham afagos com obras e projetos em seus redutos eleitorais. A busca de Bolsonaro por nomes fortes na região acontece porque ele perdeu as eleições em 2018 em todos os nove estados nordestinos e é onde enfrenta a maior rejeição do seu governo. Assim como os nove governadores são de esquerda e fazem clara oposição ao presidente, o que não falta é político contra os chefes dos Executivos estaduais que estão ao lado do presidente.
Um caso clássico é o do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que integrou por muito tempo a base do PT. Hoje, é fiel escudeiro do bolsonarismo, segundo o Uol. Nos bastidores, cogita-se que ele possa sair candidato ao Senado em 2022, embora muitos apostem na tentativa da reeleição. A saída como postulante ao governo em Alagoas é praticamente descartada.
Também de Alagoas e de olho na reeleição de 2022, o senador Fernando Collor (Pros-AL) também aderiu mais recentemente ao bolsonarismo. Em visita recente de Bolsonaro ao estado, no último dia 13, Collor tentou colar no público bolsonarista até a máscara deixou de usar. Tudo porque sabe que terá vida dura na reeleição se disputar contra o atual governador, Renan Filho (MDB) — que contará com eventual apoio de Lula.
O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que chegou a ser ministro da Integração Nacional da presidente Dilma, hoje é líder do governo Bolsonaro no Senado. FBC, como é conhecido, deixou o cargo porque seu padrinho político, o falecido ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, rompeu com Dilma para se lançar candidato a presidente em 2014. Em 2018, foi líder no Senado do governo Michel Temer (MDB). Hoje, defende que seu filho e prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (MDB), seja candidato ao governo do estado, contra o seu ex-PSB, que governa o estado desde 2007.
No Piauí, outro bom exemplo é o senador Ciro Nogueira, presidente do PP e que hoje integra inclusive a tropa de choque do governo na CPI da Covid. Ela já anunciou que pretende disputar o governo do estado e quer ocupar a cadeira do seu ex-aliado, o petista Wellington Dias. Nogueira fez parte da base de apoio de Lula e Dilma.
No Maranhão, apesar de eleito junto — e com apoio — do governador Flávio Dino (PCdoB), em 2014, Roberto Rocha hoje é considerado um dos maiores representantes do bolsonarismo no estado e foi o anfitrião da visita do presidente ao estado na semana passada. Ele deixou o PSDB em março e pretende se filiar ao PSL. Quando eleito, em 2014, ele era do PSB.
Cientistas políticos afirmaram ao Uol que a busca desses caciques nordestinos se justifica por questões locais e por facilitar a liberação de recursos a seus redutos. Mas o que não se sabe é se todos estarão com Bolsonaro em 2022.
“Essa movimentação [de apoio ao governo federal] é normal. O Poder Executivo, independentemente do presidente da República, exerce uma força centrífuga sobre os parlamentares. Ocorreu com o Lula, com Fernando Henrique, com Dilma. O que nós precisamos observar é se essas lideranças continuarão com Bolsonaro no próximo ano”, explica o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco. Segundo ele, essas definições passarão muito pela popularidade de Bolsonaro quando forem fechadas as coligações.
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