Exonerações estratégicas levantam suspeitas sobre tentativa de blindagem do prefeito Dailton Filho em meio a investigações milionárias do MP-BA
Menos de uma semana após o Ministério Público da Bahia (MP-BA) deflagrar a Operação Xeque-Mate, que apura fraudes em licitações, desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e corrupção envolvendo agentes políticos e empresas ligadas à Prefeitura de Madre de Deus, o prefeito Dailton Filho promoveu a exoneração de dois secretários estratégicos de sua gestão.
Foram desligados dos cargos o então secretário de Mobilidade e Segurança Cidadã, Sandro dos Santos Matos, e o secretário de Cultura e Turismo, Victor Alerrandro Lino de Souza Dias. Segundo o Diário Oficial do Município, as exonerações teriam ocorrido a pedido dos próprios secretários. No entanto, o timing político da decisão acendeu o alerta e levantou questionamentos inevitáveis.
A movimentação ocorre em meio a uma investigação que aponta que, entre 2021 e 2023, mais de R$ 4,5 milhões teriam sido movimentados de forma fraudulenta, podendo o valor real ser ainda maior. Até abril deste ano, os contratos firmados com empresas investigadas somavam R$ 13,9 milhões. O esquema, segundo o MP-BA, simulava competitividade em pregões eletrônicos e credenciamentos para dar aparência de legalidade às contratações públicas.
Exoneração seletiva ou estratégia de contenção de danos?
O que chama atenção não é apenas quem saiu, mas quem permaneceu. Até o momento, apenas dois secretários foram exonerados. Outros cargos de confiança, inclusive ocupados por familiares, aliados políticos e amigos próximos do prefeito, seguem intocados dentro da estrutura administrativa do município.
A dúvida que ecoa nos bastidores e nas ruas de Madre de Deus é direta:
por que apenas esses dois nomes foram afastados?
Houve critério técnico ou apenas conveniência política?
Mais do que isso, cresce a preocupação sobre o futuro das nomeações. Quem assumirá os cargos vagos?
Serão nomes independentes ou indicações dos próprios exonerados?
Haverá apenas uma troca de cadeiras para manter o mesmo grupo no controle das decisões?
Essas perguntas ganham peso diante das informações do MP-BA de que o esquema investigado teria sido liderado por um agente político local, responsável por controlar logística, contratos e movimentação financeira, mantendo o fluxo de recursos e ocultando a real condução das operações.
Mudança real ou apenas encenação administrativa?
A Operação Xeque-Mate cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em Madre de Deus, São Francisco do Conde, Senhor do Bonfim, Salvador e Lauro de Freitas. Entre os alvos estão secretarias municipais, a Câmara de Vereadores e empresas do ramo de eventos e locações, setor diretamente ligado à Secretaria de Cultura — uma das pastas atingidas pelas exonerações.
Diante desse cenário, a postura do prefeito Dailton Filho passa a ser observada com lupa. Para críticos, as exonerações podem representar uma tentativa de driblar a Justiça, afastando temporariamente peças do tabuleiro enquanto preserva o núcleo político do poder. Para outros, trata-se de uma jogada clássica: sacrificar nomes para proteger o comando.
O BN informou que tentou contato com a Prefeitura de Madre de Deus para saber se as exonerações têm relação direta com a operação do MP-BA, mas não obteve resposta até o fechamento da publicação. A reportagem também busca posicionamento dos ex-secretários.
E agora, qual será a próxima trama?
Enquanto o prefeito mantém silêncio, a população de Madre de Deus acompanha, desconfiada, os próximos capítulos. A pergunta que fica é inevitável:
O “santinho” seguirá promovendo mudanças reais ou apenas encenando gestos administrativos para tentar sobreviver politicamente à maior crise de sua gestão?
Com milhões sob investigação, aliados preservados e exonerações seletivas, o roteiro ainda está longe do fim. E, ao que tudo indica, a próxima jogada do prefeito Dailton Filho poderá definir se a gestão caminha para a transparência ou se aprofunda ainda mais na sombra das suspeitas.












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