Só depois da visita do Ministério Público e das forças de segurança, a aura de pureza do prefeito Dailton Filho começa a ser testada pela realidade.
Por muito tempo, Madre de Deus viveu sob a administração de um prefeito tratado quase como um santo. Discreto, sereno, institucional, Dailton Filho (PSB) parecia imune a crises, denúncias ou qualquer suspeita mais ruidosa. Pelo menos até a manhã em que o município acordou com a presença ostensiva das forças de segurança do Estado e do Brasil.
A chegada do Ministério Público da Bahia, acompanhada de órgãos de investigação e controle, quebrou o silêncio e sacudiu a cidade. Não foi um despertar comum. Foi o tipo de manhã que faz os munícipes questionarem se, por trás da imagem de lisura e discursos sobre transparência, havia algo que precisava — e precisava muito — ser explicado.
Curiosamente, o prefeito só veio a público após a operação ganhar as ruas, reafirmando compromissos já conhecidos: legalidade, transparência, correta aplicação dos recursos públicos e colaboração com as investigações. Um discurso impecável. Quase celestial. Mas que, para muitos moradores, chegou tarde.
Afinal, se tudo sempre esteve nos trilhos, por que foi necessária a presença simultânea de tantos órgãos de fiscalização? Por que o silêncio antes e a nota depois? São perguntas que ecoam nas ruas, nos grupos de mensagens e nas esquinas políticas da cidade.
O próprio prefeito afirma acompanhar “com responsabilidade” o andamento das investigações e reforça que não compactua com irregularidades, defendendo o rigor e o devido processo legal. Nada além do que se espera de qualquer gestor público. Mas, em Madre de Deus, a narrativa agora mudou: o santinho passou a ser observado de lupa.
A operação não condena, não sentencia e não antecipa julgamentos. Mas derruba certezas. Mostra que até administrações blindadas pelo discurso institucional podem ser alcançadas quando o Estado decide bater à porta — literalmente.
No fim das contas, a fé na política local deu lugar à vigilância. E o prefeito, antes tratado como exemplo de pureza administrativa, agora enfrenta o desafio mais difícil de sua gestão: provar, na prática, que a santidade não era apenas de fachada.
Em Madre de Deus, o céu político segue nublado. E, desta vez, não há nota oficial capaz de afastar a tempestade.












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