Cerca de 200 funcionários terceirizados que trabalharam por seis meses no Hospital Municipal de Madre de Deus, cidade da região metropolitana de Salvador, contam que tiveram o contrato de trabalho encerrado, mas não receberam os pagamentos do 13º salário proporcional aos meses trabalhados, nem da rescisão contratual.
Técnicos de enfermagem, médicos e auxiliares de limpeza detalham que foram contratados pela S3 Gestão em Saúde, que administrou o hospital de junho a dezembro. A empresa encerrou o contrato com a prefeitura e demitiu todos os trabalhadores no dia 3 de dezembro, mas até então não pagou o 13º salário proporcional nem a rescisão contratual.
“Procuramos secretário de saúde, prefeito, mas até então não obtivemos sucesso”, conta a recepcionista.
Os médicos que foram contratados como pessoa jurídica também pela S3, estão numa situação ainda pior. Afirmam que desde outubro não recebem pagamento e nem conseguem mais contato com a empresa.
“Embora a prefeitura tenha repassado o dinheiro para pagar aos médicos em outubro, a S3 disse que não recebeu e o secretário de saúde disse aqui, em reunião, que pagou. O dinheiro do médico tinha que ser pago ao médico, eles desviaram e não dão notícia de nada”, denuncia o médico ortopedista, Antônio Correia.
Além da falta de pagamentos, os funcionários alegam não ter condições adequadas para atender a população. No mesmo hospital, foi criada no início da pandemia, uma área para atender a pacientes com síndromes respiratórias.
Os funcionários contam que no início havia uma equipe específica para atender as vítimas de Covid-19, mas que depois esta equipe teria sido demitida e hoje os pacientes infectados com o novo coronavírus estariam dividindo o espaço com pessoas não infectadas.
Por meio de nota, a S3 Gestão em Saúde, informou que o pagamento dos salários e das verbas rescisórias ainda não foram repassados porque a prefeitura de Madre de Deus não fez os pagamentos referentes aos dois últimos meses do contrato. A nota ainda afirma que a prefeitura de Madre de Deus já foi intimada pelo Ministério Público do Trabalho para prestar esclarecimentos.
A prefeitura foi procurada para dar detalhes sobre o repasse, mas a assessoria informou que não vai se pronunciar sobre esse assunto. Sobre a denúncia de que pacientes com e sem Covid-19, que estariam dividindo o mesmo espaço no hospital, a assessoria da prefeitura afirmou que vai investigar o caso.
O higienizador Adriano Ferreira conta que trabalha há seis anos no Hospital Municipal de Madre de Deus, sempre como terceirizado. Neste período já foi funcionário de quatro empresas diferentes e alega que nunca recebeu os valores referentes às rescisões contratuais.
“A APMI me deve rescisão, a IGST também rescisão e férias, a Prime, rescisão, férias e parte do 13º, e a S3 rescisões, férias e 13º. Quatro empresas e quatro calotes”, relata Adriano.
A S3 é a mesma empresa que administrava o gripário de Valéria, em Salvador. Fechado no dia 16 de novembro, o espaço contava com 24 leitos e 100 funcionários que tiveram o contrato rescindindo, e também reclamaram não ter recebido integralmente os valores devidos.
“Não é justo, em plena pandemia, que trabalhadores que dão a vida, vários aqui já se contaminaram [com a Covid-19] e hoje, para receber suas verbas rescisórias tem que vir para baixo de sol para reivindicar seus direitos”, diz Adauto Silva, diretor do Sindsaúde rede privada.
A equipe de reportagem tentou contato com as empresas terceirizadas APMI, IGTS e Prime que foram citadas na reportagem, mas as ligações não foram atendidas. De acordo com os trabalhadores, elas não teriam pago os direitos trabalhistas de alguns ex-funcionários.
Matéria: G1
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