Por: Amo a história de Salvador
A existência de uma personagem chamada Baiana de Acarajé não é obra do acaso, é uma construção histórica e cultural muito profunda. Na foto, essa senhora negra com seu tabuleiro é uma ganhadeira. Esse era o nome dado às ex-escravizadas que vendiam seus quitutes nas ruas para sobreviver. Elas deram origem ao personagem Baiana do Acarajé. A história vem daí.
Primeiro, é essencial saber que o akará (bola de fogo) veio sim da África, trazido pelos escravizados. Porém, foi na Bahia que ele saiu dos terreiros e ganhou as ruas nos tabuleiros das ganhadeiras com o nome de acarajé. Foi na Bahia que surgiu o acarajé como conhecemos atualmente. Por isso que ele não existe na África.
Também é essencial saber que os terreiros de Candomblé surgiram na Bahia porque essa religião é afro-brasileira e foi criada aqui. Não existia o Candomblé na África. Ele foi sintetizado na Bahia, no século XIX, a partir de vários elementos religiosos trazidos de diversas partes da África. Cada tribo africana cultuava um orixá: foi aqui na Bahia que aconteceu a reunião de todos eles, uma história belíssima que deveria virar filme.
O akará era preparado para ser servido exclusivamente aos orixás dentro dos terreiros de Candomblé. Foram as ganhadeiras que levaram a iguaria para as ruas de Salvador na luta pela sobrevivência. Então, nós, seres humanos mortais, pudemos saborear a comida que era exclusiva dos orixás. Assim nasceu, na Bahia, o akará (bola de fogo) + jé (comer), palavra em iorubá.
O Candomblé nasceu na Bahia; os terreiros nasceram na Bahia; o akará saiu dos terreiros para as ruas e se transformou no acarajé na Bahia; as ganhadeiras se transformaram em Baianas de Acarajé na Bahia. Só depois o Candomblé se espalhou por outras regiões do Brasil, mas as duas casas-mães ficam em Salvador: Gantois e Casa Branca.
Dito isso, só a Bahia tem verdadeira legitimidade para fazer do Acarajé um Patrimônio Cultural. Concorda?
(Pesquisa e texto: Louti Bahia – Amo a História de Salvador.
Foto: AHMS)
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