No domingo, dia 5 de novembro, estudantes do Brasil inteiro tiveram de argumentar sobre “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”, na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023.
A disparidade econômica e de gênero desempenham um papel fundamental no tocante à esta invisibilidade, uma vez que o papel da mulher é influenciado por sistemas patriarcais que desde a infância estabelecem que a responsabilidade por todas as tarefas de cuidado no âmbito familiar recai sobre as mulheres.
No contexto do ambiente doméstico e familiar, o trabalho “invisível” refere-se às atividades que realizamos sem receber remuneração e que frequentemente carecem de reconhecimento na sociedade. Tarefas como a limpeza da residência, o cuidado de crianças e idosos na família, e a preparação das refeições são exemplos de responsabilidades que tendem a ser predominantemente assumidas por mulheres.
Em média, as mulheres dedicam 4 horas e 25 minutos diariamente a tarefas não remuneradas, mais de três vezes a média dos homens, que é de 1 hora e 23 minutos, de acordo com o estudo “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, conduzido pelo IBGE em 2019. Muitas mulheres realizam jornadas duplas e até triplas, equilibrando o trabalho remunerado com as tarefas domésticas.
O acúmulo de responsabilidades por si só já seria exaustivo para qualquer pessoa, mas além das tarefas físicas, as mulheres também assumem a maior parte da carga de trabalho mental nas famílias. Elas são responsáveis por criar listas de compras, organizar os cuidados com as roupas, gerenciar o calendário de vacinação dos filhos, planejar atividades, auxiliar nas tarefas escolares, garantir o bem-estar dos animais de estimação e administrar inúmeros outros detalhes cotidianos da vida doméstica. Algumas vezes, também assumem o papel de gerir seus parceiros, frequentemente orientando-os em tarefas. A responsabilidade de antecipar as necessidades de todos e, muitas vezes, manter a harmonia no âmbito familiar, pode ser emocionalmente desgastante.
Com bastante frequência, as mulheres que trabalham são obrigadas a reduzir suas horas de trabalho remunerado ou até mesmo a abandonar totalmente a força de trabalho devido ao peso do seu trabalho não remunerado. Além disso, elas continuam enfrentando discriminação de gênero, assédio e salários mais baixos por trabalho de igual valor em comparação aos homens.
Essa pesada carga de trabalho doméstico e de cuidados não remunerados, particularmente enfrentada por mulheres mais pobres e negras, constitui uma barreira substancial para a conclusão de suas jornadas educacionais, sua inserção no mercado de trabalho e sua participação na esfera pública.”
Superar a desigualdade de gênero no ambiente doméstico representa um desafio significativo que requer ação em várias frentes. São necessárias campanhas de conscientização, políticas públicas e a participação da sociedade em geral para promover uma mudança cultural, ou seja, uma nova perspectiva sobre a divisão de responsabilidades e papéis entre homens e mulheres na família e na sociedade e principalmente, a inserção de mulheres em cargos políticos relevantes e nas esferas de poder.
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