Falar de Luís Gama e não se emocionar não é tarefa fácil, até seus biógrafos mais famosos dizem que sua vida daria um excelente roteiro de novela, daquelas em que os espectadores terminam o folhetim em prantos.
Sua mãe Luiza Mahin, uma das idealizadoras da Revolta dos Malês, um levante de escravos ocorrido na Bahia, foi presa, condenada por conspiração e expulsa do país. Sem a genitora, o pai de Gama, um homem branco, o vendeu como escravo para um comerciante paulista. No momento da negociação Luís tinha 10 anos de idade. Daí pra frente sua vida passaria a compor uma das páginas mais belas da história do Brasil. Aos 17 anos Gama Aprendeu a ler e estudou direito, poesia, filosofia e jornalismo. Compreendeu de forma autodidata, que segundo o direito da época, por ser filho de mãe livre, sua situação de cativo era ilegal. Foi aos tribunais e conseguiu, judicialmente, a própria liberdade. Junto a outros jornalistas inaugurou a imprensa humorística paulistana ao fundar, em 1864, o jornal “Diabo Coxo”, usando o instrumento de comunicação para criticar duramente a escravidão. No mesmo ano, virou um dos poucos negros aceitos na Maçonaria paulistana.
Engajado na luta abolicionista, se constituiu como advogado e enfrentou muitas lutas judiciais para defender negros escravos. No fim de sua vida, Luís Gama havia libertado cerca de 500 cativos.
Tinha em sua casa um recipiente com moedas para assistir negros libertos que passavam por necessidades, visto a dificuldade de reinserção social pós libertação. Também mantinha contato com jornais e comerciantes e usava sua influência para empregar negros alforriados. Recebia em sua casa, cativos maltratados pelos seus senhores, alguns fugidos, outros revoltosos, outros que queriam libertar os filhos das garras da escravidão. Segundo Boris Fausto, seu biógrafo mais famoso, Luís foi um símbolo da luta contra a escravidão, e atendia todos os que o procuravam com o mesmo cuidado e proteção. Gama obteve em sua época, apoio e admiração de figuras famosas como Joaquim Nabuco, Castro Alves e Raul Pompeia, pessoas cruciais para a construção do pensamento abolicionista brasileiro.
Gama morreu em 24 de agosto de 1882, vítima da diabetes. Seis anos antes da lei áurea.
Seu enterro foi um dos acontecimentos mais emocionantes da história da cidade, o triste evento reuniu uma multidão. O caixão foi carregado por amigos jornalistas, da maçonaria, ex-escravos e cativos liberados pelos donos.
Na morte, Luís Gama conseguiu a proeza de reunir negros e brancos de classes sociais diferentes segurando as alças do mesmo caixão. Mais de 40 homens revezaram-se para carregar a urna que guardava o corpo de Gama. O Estado de São Paulo decretou 5 dias de luto, poucas pessoas trabalharam no dia, em respeito à morte o governador proibiu o açoite de negros por 10 dias.
Sobre esse grande homem, o autor Raul Pompéia escreveu:
“…não sei que grandeza admirava naquele advogado, a receber constantemente em casa um mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes, esfarrapados, implorando libertação, como quem pede esmola; outros mostrando as mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhes dera um bárbaro senhor; outros… inúmeros.
E Luís Gama os recebia a todos com a sua aspereza afável e atraente; e a todos satisfazia, praticando as mas angélicas ações, por entre uma saraivada de grossas pilhérias de velho sargento. Toda essa clientela miserável saía satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, outro a liberdade, alguns um conselho fortificante.
E, por essa filosofia, empenhava-se de corpo e alma, fazia-se matar pelo bom…Pobre, muito pobre, deixava para os outros tudo o que lhe vinha das mãos de algum cliente mais abastado.”
Luís Gama é um personagem incrível na história brasileira, a página agradece o apoio de todos e a oportunidade de poder mostrar um pouco da história desse grande homem.
“Eu advogo de graça, por dedicação sincera à causa dos desgraçados; não pretendo lucros, não temo violência”
Luís Gama.
Texto – Joel Paviotti
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