A Corregedoria da Polícia Militar divulgou detalhes do Inquérito que apurou a ação dos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e todo o caso do Soldado Wesley Soares, morto no dia 28 de março após ter um possível surto psicótico, quando bloqueou a região do Farol da Barra por quatro horas e disparou tiros de fuzil para o alto e também contra policiais.
Oficial encarregdo pelo Inquérito Policial Militar (IPM) corregedor adjunto da PMBA, tenente coronel Agnaldo Ceita disse que as investigações descartaram uma conexão entre o estresse em suas atividades como policial e toda a ação do Soldado, que saiu de Itacaré rumo a Salvador com dois fuzis e duas pistolas carregadas. Além de Ceita, participaram da entrevista coletiva o corregedor geral da PMBA, coronel Augusto Magnavita e os promotores de justiça Isabel Adelaide e Luciano Borges.
Segundo Agnaldo Ceita, depoimentos colhidos, pela Corregedoria, de colegas da unidade onde ele trabalhava e dos familiares foram fundamentais para derrubar a hipótese.
“O Soldado Wesley não possuía histórico de problemas psicológicos ou psiquiátricos. Então não possuía acompanhamento médico especializado que permitisse um diagnóstico conclusivo. O que soubemos de psicólogos é que ele teve, possivelmente, e isso não é conclusivo porque não houve um acompanhamento médico, psicológico ou psiquiátrico, de forma prévia, para trazer um relatório clínico, há indicação dele ter sofrido um surto psicótico vinculado a questões ideológicas e partidárias”, afirmou.
Manuscritos entregues pela família do policial militar aos investigadores foram fundamentais para colocar a suposta motivação ideológica e política como causa do suposto surto do policial. A família do soldado contou à polícia que no dia 27 de março, um dia antes de sua morte, Wesley Soares apresentou um nível de estresse muito incomum, a ponto de familiares realizarem atividades em um local distante para que ele se sentisse melhor.
De fato, para o o policial militar Wesley Soares ser diagnosticado com um ‘surto psicótico’, seria necessário um trabalho de escuta técnica e criteriosa, afirma o psicólogo Edilson da Paz, pós-graduando em neuropsicologia e com experiência de três anos no acompanhamento de policiais militares.
“Não tem como afirmar que foi surto, ou uma condição clínica específica neste momento. O emprego dessa palavra entra em um aspecto mais próximo da loucura, que é vista como sinônimo de ‘desrazão’ no senso comum. Isso pode colaborar para a desconsideração da coerência do Wesley, e sermos injustos com o acontecimento”, afirmou.
“A verdade do que aconteceu morreu com ele”, acrescenta o psicólogo, que aponta ainda que o melhor termo para denominar o episódio ocorrido com o soldado é “crise”. “Pois se trata de um momento crítico e decisivo, mantendo o cuidado em não estereotipar o acontecimento e sem arriscar desconsiderar todo o processo e os múltiplos fatores antecedentes ao ocorrido, o qual não temos acesso”, argumenta.
Também com especialidade no acompanhamento de policias militares, a psiquiatra Sandra Peu explica que o surto psicótico acontece quando há quebra de relação da realidade. Ela também não concorda com a definição prévia usada para caracterizar o episódio. Caso fosse mesmo constatado um quadro de surto, era necessária a intervenção psiquiátrica, o que não ocorreu.
Wesley foi definido por vários colegas e amigos como um garotão de farda. Nos 13 anos na PM, Wesley sempre foi prestativo, brincalhão, sorridente e cumpridor de suas obrigações na 72ª CIMP (Itacaré). No entanto, nos últimos dias de vida, estava nervoso, e o motivo, ainda segundo os mesmos colegas, seriam divergências políticas. O policial não concordava em fazer cumprir o fechamento do comércio, medida adotada para combater o avanço da pandemia.
O inquérito também concluiu que não houve infração administrativa-disciplinar por parte dos policiais do Bope que trabalharam na ação. Em bom português: segundo o inquérito, não houve abuso ou uso excessivo da força policial. “O Bope agiu de acordo com protocolos internacionalmente aceitos. O protocolo praticado do Bope é o menos gravoso entre os existentes, utiliza mais ainda a busca pela preservação da vida humana. Sempre na tentativa de obter negociação, dissuadir o causador da crise pela negociação”, disse.
Segundo o corregedor, o Bope tentou fazer a negociação por horas e chegou a trocar o negociador por uma negociadora quando o diálogo entre o soldado e o primeiro policial ficou estressante. Após a mudança do negociador, diz a corregedoria, Wesley Soares ficou mais agressivo e deixou de atirar para cima, passando a disparar contra os policiais do Bope, que contra-atacaram no que o inquérito classifica como legítima defesa.
Wesley morreu após levar oito tiros, que, de acordo com o inquérito, atingiram regiões não-letais como pernas e mãos. Ele morreu devido a hemorragias internas causadas pelos disparos. Essas informações vão de encontro com o dito preliminarmente, indicando que ele foi atingido em regiões como tórax e abdômen.
O IPM foi enviado para o Ministério Público Estadual, que é o titular da ação Penal, e a promotoria do órgão jurídico vai analisar a peça antes de emitir um parecer.
Via: Correio24h
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