Por um certo tempo costumava ouvir de uma amiga que ela necessitava de um parceiro que a completasse, para que assim, ela pudesse ser feliz. Com o tempo esse discurso se transformou em: “pensando bem, eu sou completa. Agora necessito de alguém que me faça transbordar”. Existe uma fantasia acerca sobre o amor e sua possibilidade de aplacar todas as angústias, tristezas e vazios que alguém pode ter. Que o amor pode salvar, completar. Que no momento certo, assim como nas comédias românticas, uma música vai tocar, o seu grande amor vai chegar e então tudo será solucionado.
Essa fantasia do amor como completude se dá pela tentativa que de a partir de duas pessoas, possa existir uma unidade. Fazer o Um, o que é da ordem do impossível, pois, mesmo que de forma enganosa, só existe a possibilidade de amar devido à castração. Por isso Lacan demarca que não há relação sexual. E o que significa isso? Não há como existir o Um. Não há como uma pessoa completar a outra.
Nesse seguimento, quem é completo, não pode amar, pois não existe interesse no outro. Para amar é necessário reconhecer sua falta e, assim, doá-la ao outro. Não se trata de dar o que se tem, e sim o que não se tem e isso vai além de si mesmo, sendo assim, dar seu ser de falta, se não há falta, não há amor. A partir da falta que se pode amar alguém, pois para amar, algo precisa faltar. O amor não tem o poder de completar, pois somos seres faltantes e não há problema nenhum nisso. Quando o amor “transborda”, não é mais amor, mas isso é assunto para outro texto.
Por: Amanda dos Santos Araujo
Psicóloga clínica
Pós graduada em Teoria da Psicanálise de Orientação Lacaniana
Aprimorada em Transtornos Alimentares
Mestranda em Clínica Psicanalítica
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