José Mário dos Santos (1927 -1997)
José Mário dos Santos nasceu em Santo Amaro da Purificação (BA) no dia 24 de setembro de 1927. Filho de Manoel Pedro dos Santos e de Maria Euflosina da Boa Morte, família humilde e de raça negra, trabalhadores da lavoura de cana-de-açúcar. A sua infância foi no canavial com os seus pais e irmãos, não tendo tempo nem condições financeiras para frequentar a escola. Na pré-adolescência, já morador do Bairro da Liberdade, em Salvador, passava a maior parte do tempo no Convento do Pavilhão do Hospital Santa Isabel, fazendo serviços gerais para as freiras. Era uma pessoa gentil, bondosa e solícita. Fazia favores pessoais para os médicos, ganhando a simpatia e a confiança desses profissionais.
Com o passar dos anos, como era muito curioso, teve acesso a Sala do Necrotério da Faculdade de Medicina que ficava anexa ao Hospital Santa Isabel, observava o trabalho dos profissionais que faziam a limpeza e preparação dos cadáveres para as aulas práticas da faculdade, passando a auxiliá-los neste processo, o que fez com que se familiarizasse com órgãos e ossos do corpo humano. Isso desenvolveu nele um sentimento de aprender um trabalho no ramo da saúde e uma vontade de ajudar as pessoas nesse sentido. Com a colaboração dos médicos passou a ter acesso às dependências internas do hospital e começou a aprender o ofício da enfermagem.
José Mário casou-se, teve dois filhos, divorciou-se e casou novamente com Elza Cana Brasil, a quem carinhosamente chamava de “Elzinha”, constituindo uma nova família. Mudou-se para a cidade de Cocorobó, onde começou a colocar em prática com a ajuda de sua esposa, os procedimentos de enfermagem aprendidos cuidando das pessoas daquela comunidade. No entanto, para dá uma vida melhor para sua família e proporcionar melhores estudos para seus filhos, em 1957 mudou-se para a cidade de Candeias para uma melhor sorte já que ali estava instalando poços de Petróleo da RPBA/ Petrobrás e necessitavam de mão de obra. Baseado em sua experiência, foi contratado como Auxiliar de Enfermagem pela Petrobrás. Era comum na época, contratar profissionais de ofício empírico e não se exigia certificados, nem diplomas. No trabalho, com a ajuda dos profissionais médicos, aprendeu alguns procedimentos da medicina, aumentando a sua habilidade e experiência. Era um homem destemido e a sua inteligência era imensurável.
Fixou moradia na cidade, na Praça Dr. Gualberto Dantas Fontes, onde utilizava um cômodo da casa como enfermaria para atendimentos a todos que o procuravam em qualquer hora do dia, sem cobrar pelo seu trabalho e muitas vezes, fornecia os materiais e medicamentos necessários para o procedimento utilizado. A esta altura ficou conhecido na cidade como “Mário enfermeiro”.
Nas décadas de 60 e 70, o serviço de Saúde da cidade era precário e de pouca acessibilidade. Foram inúmeros os atendimentos realizados nessa época. Além de realizar os vários procedimentos de enfermagem como curativos, aplicação de injeções, soroterapia venosa, etc, ele curou muitas doenças sexualmente transmissíveis de homens e mulheres, encanou membros fraturados, fez transfusão de sangue braço a braço e a técnica de hipodermóclise, uma técnica antiga que consiste em fazer infusão de fluidos e medicamentos pela via subcutânea, que ele realizava com rara habilidade e sabedoria, curando muitas desidratações, principalmente de crianças. Realizou também suturas de pequeno, médio e grande porte e cuidou de ferimentos oriundos de arma branca e arma de fogo. O seu trabalho proporcionou respeito e admiração das autoridades locais, como a de seu amigo e compadre Dr. Gualberto Dantas Fontes, que foi prefeito e médico na cidade.
Mário enfermeiro não foi um homem rico, pelo contrário, trabalhou muito para prover a sua família. Muitas vezes fazia transporte de passageiros à noite para complementar a renda e pagar os estudos dos seus dez filhos. Dois deles, realizaram o seu desejo e formaram-se em médicos, os quais, quando estudante tiveram a sorte de aprender várias técnicas médicas com o seu pai. A sua bondade também se estendia ao lado social. Muitos batiam a sua porta para pedir alimentação, e as vezes até abrigo. Ele e sua esposa não negavam esse atendimento. Algumas pessoas moraram por um certo tempo em sua residência e duas delas, foram acolhidas como filho.
No início da década de 90, aposentou-se da Petrobrás e já não tendo mais o mesmo vigor e saúde de antes, e, com a melhora da acessibilidade das pessoas ao sistema de saúde municipal, ele encerra as suas atividades profissionais. José Mário dos Santos, o “Mário enfermeiro”, um homem que por dificuldades enfrentadas na vida, não teve acesso a escola, não tirou um diploma, mas através de um dom dado por Deus, exerceu uma profissão e dedicou a sua vida cuidando das pessoas.
Ele faleceu em 02 de abril de 1997, vítima de Acidente Vascular Cerebral, deixando um exemplo de vida de amor, bondade e solidariedade para seus filhos e netos.
Relato do Bahia Notícia:
Quem não lembra do casarão branco na Praça Dr. Gualberto Dantas Fontes, da família Brasil, que tinha como líder o tradicional e amoroso seu Mário Enfermeiro, que atendia 24 horas em sua residência após sua aposentadoria como Enfermeiro da Refinaria Landulfo Alves Mataripe. Pessoas que não tinham condições financeiras e o município não tinha saúde pública para atender, seu Mário era o principal responsável por cuidar destes. Lembrando aqui que seu Mário costumava sorrir com os olhos diante de muitas felicidades, ao lado da sua esposa Dona Elza, ambos saudosos, tinha o seu casarão branco como posto médico, até na parte solidária, o casal de lindo coração matou a fome de muitas pessoas no município.
O executivo do Bahia Notícia, Junior Robocop, lembra de seus momentos na casa da família Brasil ao lado do seu amigo pessoal, o advogado Dr. Mario Brasil, uma das partes das boas lembranças da família era o pequenês chamado top que aparentemente era bipolar e atacava todos no início da rua Antônio Martins nos fundos do casarão branco, era ambulatório e cozinha, litros de café eram feitos diariamente para uso da casa, para pacientes e pessoas sem terem o que comer.
Vale ressaltar que o casal feliz diante da sua família tiveram os filhos Dr Marinho, Lia, Dra Maribel, Indu, Rita, Cacau, Largata, Gel e Jone.
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