Há cinco meses no cargo, o ministro da Cidadania, João Roma, comanda a pasta responsável por botar na rua um dos maiores trunfos de Jair Bolsonaro para estancar sua queda de popularidade e cacifá-lo à reeleição em 2022: o novo Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil.
Em entrevista ao GLOBO, Roma deixou nas mãos do presidente a definição sobre o valor do benefício, ainda em estudo, e deu um recado: cabe à equipe econômica encontrar a maneira de satisfazer os desejos do chefe do Executivo.
O Globo: O Bolsa Família é um programa amplamente reconhecido, funciona há décadas. A mudança de nome não é uma medida eleitoreira?
João Roma: Não se trata do mesmo programa. É um avanço do que ocorria até então em matéria de política de renda para a população, reúne outras ferramentas. Não é apenas a embalagem mudando.
O Globo: O presidente indicou em vários momentos que gostaria de acabar com essa marca.
João Roma: Não partiu do presidente Bolsonaro a decisão de trocar o nome. Eu que propus a mudança do nome, porque eu vi que todo o eixo do programa era outro.
O Globo: O presidente também vem apresentando valores diferentes. Segundo ele, o aumento será de pelo menos 50%. Dá para prometer que será de pelo menos 50%?
João Roma: O presidente do Brasil se chama Jair Messias Bolsonaro. Se o presidente declarou que vai ter um aumento de mais de 50%, tenho certeza que o governo vai encontrar espaço fiscal para isso. O fortalecimento da política de assistência social seguirá de mãos dadas com a responsabilidade fiscal.
O Globo: O governo apresentou a medida provisória do Auxílio Brasil junto com a PEC dos Precatórios. Existe uma alternativa caso o financiamento via precatórios não avance?
João Roma: A PEC dos Precatórios é um assunto distinto da medida provisória de reformulação dos programas sociais do governo. O número maior de precatórios afeta as finanças públicas. Mas não há uma relação direta, não são dependentes uma da outra.
O Globo: Mas os programas foram apresentados juntos. A impressão é de que o custeio do programa
sairia da PEC.
João Rom: A PEC dos Precatórios tem correlação com as finanças públicas e, se houver fragilidade nas finanças públicas, uma das áreas afetadas é a assistência social.
O Globo: Se nada passar, é possível dar um aumento de 50% no tíquete médio do benefício, como o presidente vem prometendo?
João Roma: Eu acredito que nós chegaremos aos 50%. O presidente Bolsonaro já anunciou, portanto, trata-se de uma decisão de governo. Quem comanda o governo é o presidente Bolsonaro.
O Globo: O senhor fala em “decisão de governo”. É uma decisão política, portanto, não técnica?
João Roma: Olha, decisão do governo é decisão do governo. Quem conduz a nação não se dá através da letra fria da burocracia.
O Globo: Politicamente falando, o senhor espera ser reconhecido como um dos pais do programa?
João Roma: O pai do Auxílio Brasil chama-se Jair Messias Bolsonaro. Ele que assinou a medida provisória e a entregou ao Congresso. Mas, como duplamente nordestino, pernambucano de nascença e baiano por adoção, fico muito feliz.
O Globo: O senhor será candidato ao governo da Bahia no ano que vem?
João Roma: Eu entendo perfeitamente minha responsabilidade como agente político e representante da população. Faço parte do governo Bolsonaro, defendo este governo e defenderei o legado do presidente Bolsonaro na Bahia. Ele não vai ficar sem palanque na Bahia.
O Globo: Descarta uma candidatura?
João Roma: Não descarto.
O Globo: O senhor esteve na rampa do Palácio do Planalto durante o desfile dos tanques na Esplanada dos Ministérios. O senhor se sentiu confortável?
João Roma: Eu não interpretei como uma afronta ao Congresso nem à democracia, pelo contrário. O presidente Bolsonaro tem sido um árduo defensor da liberdade e da democracia.
O Globo: O presidente tem feito ataques reiterados a ministros das Cortes superiores. Esse comportamento não é um ataque à democracia?
João Roma: Olha, você é você, eu sou eu, cada um tem seu estilo. O presidente Bolsonaro tem seu estilo, sua maneira de se comunicar, e nesse assunto eu defendo é que é sempre importante buscar avanços na democracia.
Reprodução: O Globo
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