Durante a visita a Salvador, Lula recebeu do governador Rui Costa uma camisa genérica do Esporte Clube Bahia. A camisa, que tinha o nome do ex-presidente e o número 22 nas costas, numa referência às eleições do ano que vem, não era um produto oficial do Esquadrão. Antes das eleições municipais de 2020, nos tempos em que o governador conversava com o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, esse tipo de situação seria impensável.
Sonho sepultado
A passagem de Lula pela Bahia acabou de vez com as pretensões dos amigos mais próximos do governador Rui Costa de vê-lo candidato ao Senado. Ao cravar o senador Otto Alencar (PSD) como candidato à reeleição ao lado de Wagner, Lula tratou de tirar qualquer possibilidade de Rui fazer parte da chapa.
Senta que o Leão é manso
Não foi à toa que o vice-governador João Leão escolheu logo o dia da chegada do ex-presidente Lula (PT) a Salvador para anunciar o apoio do partido dele, o PP, à candidatura do secretário estadual de Desenvolvimento Urbano, Nelson Pelegrino (PT), para o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) na vaga do conselheiro Paolo Marconi, que anunciou aposentadoria. Leão quis demonstrar que pode distensionar o relacionamento com os petistas, que anda acirrado em função das últimas declarações do vice-governador de que está disposto a romper com Rui Costa (PT) para ser candidato ao Palácio de Ondina em 2022. Isso, claro, diante da recusa do governador em renunciar para disputar a eleição para senador e, com isso, deixar o cargo com o pepista por oito meses.
Balde de água fria
Logo depois de soltar a nota anunciando o apoio a Nelson Pelegrino, tirando o PP da disputa pela vaga no TCM (o deputado estadual Nelson Leal estava interessado), João Leão teve que digerir Lula dizer publicamente em evento na Assembleia, na quarta (25), que o candidato do ex-presidente a senador na Bahia é Otto Alencar (PSD). O vice-governador esperava uma posição menos direta de Lula, sobretudo porque a reunião com os partidos aliados para tratar de 2022 estava marcada para o dia seguinte, ou seja, ontem (26).
Pavio de pólvora
Para além de tudo isso, o PP enfrenta também um momento de desgaste interno com o deputado estadual Robinho, que anunciou seu desembarque da base governista. O parlamentar já vinha alfinetando o governo há alguns anos, mas o ápice que levou ao rompimento foi após Rui Costa sugerir que o Conselho de Ética vá pra cima do deputado Paulo Câmara (PSDB), que vem denunciando a responsabilidade do governo no aumento dos combustíveis. A saída de Robinho expôs uma crescente insatisfação na base do PT, principalmente entre integrantes do PP. Já há até deputados estaduais do partido, por exemplo, que nem estão votando nos projetos do governo na ALBA e outros, antes vigorosos defensores de Rui no Legislativo, resolveram se calar e já nem discursam. Há algo de estranho no reino do Leão.
Sangue frio
Em uma conversa de corredor nesta semana, um deputado do PP confidenciou a outro integrante da base que a situação é quase insustentável. Reclamava do tratamento hostil de Rui com os deputados e, principalmente, do desprezo do governador por eles. Dizia ele que a medida adotada por Robinho pode, sim, ser seguida por outros, mas não agora.
As emendas do Coronel
Gerou burburinho na Assembleia a ausência do senador Angelo Coronel (PSD) no evento organizado pelo PT para Lula e os movimentos sociais, na quarta. Teve militante petista dizendo que seria mais um sinal da aproximação cada vez maior entre o senador e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Coronel, que tem sido contemplado de forma generosa com emendas do governo federal para obras e ações em suas bases eleitorais, estava em Brasília na quarta, onde recebeu uma homenagem do Exército.
Recordar é viver
Voltando um pouco no tempo, vale lembrar que, no nem tão longínquo ano de 2018, Coronel promoveu na Assembleia um grande evento de apoio a Lula. Na época, diziam que o senador estava usando a imagem do líder supremo do PT para angariar sua candidatura ao Senado. Foi eleito e agora parece querer distância.
A volta dos que não foram
O evento de Lula na ALBA fez brotar deputados que andavam sumidos do Legislativo baiano. Eles ainda não tinham sido vistos no plenário da Casa após o retorno dos trabalhos, sob o pretexto de evitar aglomerações, mas não pensaram duas vezes e foram aglomerar ao lado do líder petista. Coerência que chama, né?!
Bola fora
Ainda sobre o evento de Lula, pegou mal para Rui Costa a realização de um ato político com aglomeração no mesmo momento em que o governador falou abertamente contra a realização do evento teste. Aí foi um prato cheio para a oposição, que não perdeu a oportunidade e disse que Rui realizou seu próprio evento teste com a presença de Lula. No local do evento, até mesmo deputados da base ‘brincaram’ com a situação. Em grupos de WhatsApp, empresários compartilharam vídeos das imagens da aglomeração do PT e não pouparam críticas ao governo. É aquela história: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.
Via: Correio 24h
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