Dos concursos de morfologia ao lazer da família, da lida às provas esportivas. O mercado de cavalos de raças está para o agronegócio tanto ou mais que muitos setores bem mais visíveis. Como não vira alimento, aparece pouco, fica circunscrito a um público considerado restrito, socialmente diferenciado e por aí vai.
Que seja. O negócio é bilionário, estimado em aproximadamente R$ 16 bilhões anuais, onde se desponta a liderança do quarto de milha, com R$ 5,84 bilhões, pelas contas da entidade de criadores.
Isso em termos formais, de acordo com o número de animais e proprietários registrados na Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Quarto de Milha (ABQM). Porque, na pirâmide da equinocultura dessa raça americana, se contabilizam cerca de 40 mil transferências de propriedades de animais em torno de cada 12 meses. Somam-se os valores notificados de cada negócio feito dentro dos haras, quanto nos leilões, como os nove que acontecerão a partir de amanhã (20), no 42º Campeonato Nacional, que se desenrolará em Araçatuba (SP).
Em 2018, os leilões da raça fecharam em R$ 253 milhões em transferências de 6 mil animais.
Além de um mix de produtos gerados pelos cavalos, como a venda de sêmen para inseminação artificial e a venda coberturas dos garanhões.
No mercado informal, o salto é desconhecido.
O registro de negócios vem do número de cavalos e proprietários registrados na ABQM, de acordo com o superintendente Sérgio Ricardo da Silva, respectivamente 580 mil e 108 mil.
Pirâmide do QM
“Dessa ponta para baixo, a base do setor se espalha para segmentos diretos e indiretos”, continua, mais a geração de empregos diretos e indiretos, que vão dos haras ao massagista de animais, ao veterinário, ao funcionário da fábrica de ração, aos treinadores, às costureiras dos assessórios etc.
Só no quarto de milha são 125 mil vagas diretas, que giram a economia do País, destacando São Paulo, com quase a metade de cavalos registrados na ABQM, e depois o Paraná.
Em eventos como o que começará em Araçatuba, quando se espera a comercialização de 350 animais nos remates, com giro de R$ 15 milhões, as economias locais sentem o peso desse setor.
Para um negócio mais próximo do hobby como os cavalos de raça, já que muito pouco ou quase nada se necessita deles para trabalho no campo neste século 21 (exceção nas grandes extensões do Centro-Oeste, mas onde a preferência são as mulas de sela, ou nas pradarias do Sul), o mercado bilionário puxado pelo esporte e lazer encontra no mangalarga outro segmento de peso que não deixa nada a desejar ao agronegócio mais associado ao alimento. O animal de monta considerado brasileiro (como o crioulo e o campolina, por exemplo) pega boa fatia dos R$ 16,5 bilhões que a equinocultura fatura no Brasil.
E se rivaliza em poderio com o quarto de milha, a raça que o Money Times radiografou na abertura desta série (19/07). “Mas é a raça que tem maior liquidez na hora da venda, por isso é uma excelente opção de investimento para quem busca alternativas”, afirma Daniel Borja, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM).
O mangalarga marchador (MM) é considerado “mangalarga de Minas”, onde nasceu a raça desenvolvida a partir do século 18 com a raça alter de Península Ibérica e éguas de origem berbere e andaluz. Há o mangalarga paulista, que também tem sua própria associação (ABCCRM), com algumas diferenças de conformação e estilo de cavalgada, mas que também saiu do mesmo ninho.
Para lá das diferenças, a genética do mangalarga está presente no país todo – em menor proporção no Rio Grande do Sul e Nordeste – sendo o marchador o mais espalhado, de acordo com Borja. São 620 mil cabeças registradas por 17,5 mil associados (inclusive no exterior), cujos principais representantes poderão ser vistos na 38º Exposição Nacional, de 16 a 27 de julho, em Belo Horizonte.
Com esse tamanho, seriam 40 mil empregos diretos, mais os indiretos que ajudam no custo nada barato também de manutenção. Embora Borja defenda o MM, mais adaptado ao manejo a pasto, e que com consome de R$ 1mil a R$ 1,5 mil por mês em despesas.
Leilões
Não há um levantamento estatístico do mercado do MM, como a associação do quarto de milha possui (R$ 5,8 bilhões), por conta da pulverização de variáveis – comércio de animais, embriões, coberturas e demais elos da cadeia -, naquela estimativa global da atividade comercial equina levantada pela Esalq (R$ 16,5 bilhões), mas os leilões são mensurados.
Em 2018, foram 393, que geraram R$ 127 milhões, na soma de mais de 14 mil produtos negociados. Como em qualquer outra raça, o valor individual por cabeça não importa no todo, porque, afinal, há animal para todos os bolsos – naturalmente considerando um padrão mínimo.
E também como nas outras, o mercado informal é volumoso.
Baseado no número de remates, em torno de 50 a mais ano sobre ano, mais a quantidade de novos registros a cada 12 meses, 30 mil cavalos, o presidente da ABCCMM aponta a evolução crescente do negócio. “A expansão foi de 15% em 2018 e para 2019 o percentual deve ser maior”, diz.
Minas Gerais domina a cena com mais da metade dos animais. O estado mais rico, São Paulo, vem em quarto, com 65,4 mil registros – perdendo até para o diminuto Rio de Janeiro – onde a rivalidade do mangalarga paulista e do quarto de milha diluem um pouco a expressividade.
Porém, juntando o exemplar mineiro, mais conformado para cavalgadas longas e acidentadas, portanto mais confortável, e o paulista, maior em tamanho e de transição mais rápida aos comandos do cavaleiro, os mangalargas provavelmente estão na ponta desse negócio que parece não sentir a prolongada crise econômica.
Fonte: Money Times
Deixe seu comentário