Eu sou Iris Azi, uma mulher depois dos quarenta. Já se foram alguns anos desde que eu quarentei e passei pela metamorfose da maturidade. Eu tenho 54 anos bem vividos (para mim não existe isso de 5.4) e, embora números para mim não signifiquem tanto, vamos combinar que a experiência de vida com o passar do tempo conta muito – para o bem e para o mal.
Ser mulher já é carregar pela vida toda, desde o berço, uma porção de rótulos: ainda somos tidas como limitadas, inferiores e coadjuvantes. A sociedade quer controlar nossos corpos, nosso comportamento, ditar o que devemos ou não dizer, falar e agir. A mulher chega à maturidade com essa mesma carga de (falta de) expectativas, o que torna a vida da mulher madura ainda mais difícil.
Se de um lado as pressões sociais sobre uma mulher de quarenta ou cinquenta anos são diferentes e até mais duras em relação às mulheres jovens, por outro lado a maturidade traz um saldo inegável: já passamos por muitas experiências, já sabemos pelo menos o que não gostamos e o que não queremos mais ser. Quase sempre esse é o primeiro passo para a metamorfose: depois dos 40, o senso de que a vida da mulher pertence a ela cai como uma bigorna na consciência.
Eu mesma passei por tudo o que compõe o imaginário de uma mulher de quarenta: menopausa, síndrome do ninho vazio, roleta-russa de emoções, crises, o pacote completo. Meu jeito de lidar com tudo isso foi primeiro admitir a maturidade e me preparar para a vida que eu estava disposta a levar. O segundo foi agir, e aí é tentativa e erro, um processo que requer tempo e coragem. O terceiro foi manter uma disciplina mínima que pudesse favorecer uma rotina saudável e prazerosa, com foco e dedicação: chega de satisfazer as necessidades de todos, chegou a minha vez. O quarto passo é aquele que eu procuro praticar sempre: resiliência. Quando as coisas não saem como eu quero, eu coloco a ariana de lado, e ativo o modo zen para passar pelo turbilhão e sair modificada sim, mas inteira.
Ser uma mulher madura profissionalmente ativa, atleta, mãe, esposa e empresária não me torna imune aos mitos que a sociedade quer colar a todo custo. Eu poderia enumerar dezenas, mas destaco aqui pelo menos dez estereótipos que não combinam mais com a mulher madura do século XXI.
O mito da mulher histérica. Sabe aquela música da Mallu Magalhães que fala “eu tô ficando velha, eu ficando louca”? Não é bem assim. Eu nem preciso falar que essa imagem da mulher desequilibrada é uma dos maiores preconceitos machistas que existem. Claro que as mudanças hormonais, a menopausa e o mundo dizendo que você está ficando velha impactam no equilíbrio mental. Não é fácil, é como uma segunda adolescência mesmo. Mas para isso tem solução: reposição hormonal, terapia, atividade física, diálogo, acolhimento, respeito e compreensão.
O mito da mulher desinteressante. A beleza para mulher é uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que pode ser uma libertação, pode ser uma jaula. Uma sociedade que valoriza a juventude como sinônimo de beleza não vai pegar leve com as mulheres maduras. Encontrar os limites entre a paranoia cultural e uma autoestima legítima não é simples, mas é possível e vale a pena. Podemos continuar ou nos tornarmos até mais bonitas aos quarenta sim, e não importa se com a ajuda de procedimentos estéticos. Nossos corpos, nossas regras, lembra? Com saúde, claro!
O mito da mulher frígida. A menopausa atinge a vida sexual? Em cheio! Pinta aquela insatisfação com o corpo? Não dá para negar. Uma mulher experiente pode sentir prazer com seu corpo, pode se tocar, pode realizar fantasias com o(a) parceiro(a) e pode até trocar de parceria. Com a expectativa de vida batendo nos 80 anos, que mulher quer passar metade da sua vida sem sexo?
O mito da incapacidade de recomeçar. Eu admito, não é fácil dar uma guinada na vida na maturidade. Nem sempre o apoio da família e dos amigos vem. Aos quarenta ou cinquenta, a família quer a mulher na cozinha, no sofá da sala, nos papéis tradicionais de submissão. De novo: por que passar a segunda metade da vida amargurando sonhos nunca realizados? É clichê, mas é verdade: nunca é tempo de recomeçar.
O mito da incapacidade para o trabalho. Nem sempre é fácil se recolocar no mercado de trabalho e começar uma nova carreira ou um negócio na maturidade. Se a mulher ainda carrega o estigma de sexo frágil, na meia idade a mulher é vista como carta fora do baralho. Ledo engano: as mulheres vividas são as maiores empreendedoras, são melhores líderes e têm qualidades imprescindíveis para o trabalho, como mais empatia e senso de justiça.
O mito da mulher serviçal. Não tem nada que incomode mais à sociedade machista que uma mulher autônoma. Muitas mulheres não conseguem atingir essa liberdade por questões financeiras, culturais e por padrões que elas mesmas acabam assimilando como verdade. As mulheres sabem servir, mas gostam de servir aos seus próprios interesses também. Nem toda avó passa o dia preparando o almoço da família: muitas estão cuidando de suas próprias vidas.
O mito da mulher sem vergonha. “Mas você se veste assim com essa idade?”. Essa frase persegue a mulher que ousa se vestir como quer e não “como se espera”. Nem toda mulher se veste para os homens, sequer para outras mulheres: as mulheres querem se vestir para si mesmas.
O mito da mulher sedentária. Desse assunto eu posso falar com propriedade, afinal eu me tornei atleta para valer depois da menopausa. Encontrei na musculação e no stand up paddleminha forma de me manter ativa, saudável, vaidosa (sim!) e com minha autoestima em dia. Conheço muitas mulheres maduras que dão um banho de força e disposição em muitas mais jovens. Procurem saber!
O mito da mulher antiquada. O mundo muda com uma velocidade absurda, mas nem por isso amadurecer significa que não se possa acompanhar as transformações do mundo. Conheço muitas mulheres que se tornaram mais abertas, mais conectadas com o mundo e até mais hábeis com tecnologia do que quando eram mais jovens. Sabe a vovó? Ela já está no Instagram!
E, por fim, o mito da mulher que não envelhece. Parece contraditório, mas existe uma coisa que atinge em cheio a mulherada: ageísmo ou etarismo, que é o preconceito contra a idade. Muitas mulheres sofrem uma pressão acima do normal quando o mundo descobre que elas, pasmem, envelheceram! Mesmo mulheres realizadas e poderosas como Madonna e Xuxa foram expostas ao etarismo, uma porque fez procedimentos no rosto, outra porque se negou a fazer. Se as loiras, sendo ricas e autossuficientes, passam por isso, o que dizer da maioria de nós que passamos por tudo isso quase sempre no anonimato?
Esses mitos persistem porque, infelizmente, muitas mulheres ainda os veem como verdades estabelecidas e as realidades são muito diferentes. É fácil quebrar esses paradigmas? Nem um pouco, mas é a experiência de cada mulher que abre caminho para que outras possam desbravar seus próprios percursos.
Com o meu blog e perfil Mulher Depois dos 40, eu compartilho com as minhas seguidoras a minha vida real e informações que ajudem mulheres como eu a se encontrarem e a buscarem dentro de si as respostas para os seus próprios medos e desejos. É uma jornada, mas não me sinto só.
Iris Azi
Empresária, atleta e criadora do blog e perfil Mulher Depois dos 40 (@mulherdepoisdos40)
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