Em meio ao caos na saúde municipal, prefeito nomeia filho recém-formado para cargo com orçamento milionário, enquanto outros familiares ocupam posições-chave na administração, levantando questionamentos sobre prioridades e ética.
A gestão do prefeito de Madre de Deus, Dailton Filho, tem sido marcada por controvérsias, e a mais recente delas lança luz sobre a prática de nepotismo em um momento delicado para o município. Em meio a uma persistente crise na saúde, que nem mesmo a experiência da ex-secretária Salete conseguiu solucionar, o prefeito surpreendeu ao designar seu filho recém-formado em medicina, Rafael Antonius, para a chefia de uma pasta com um orçamento superior a R$ 56 milhões. A nomeação, que seria quase caricata se não fosse pelas implicações para a população, ocorre em um contexto onde a qualidade dos serviços de saúde é uma das principais preocupações dos moradores.
A decisão de entregar uma responsabilidade financeira e administrativa tão significativa a um profissional recém-formado, sem aparente experiência em gestão pública, levanta sérios questionamentos sobre os critérios utilizados pelo prefeito Dailton Filho. A crise na saúde de Madre de Deus é notória, com relatos de dificuldades no acesso a consultas, exames e tratamentos. A nomeação de Rafael Antonius, em vez de um gestor com comprovada expertise na área, soa como um “presente” familiar em detrimento das necessidades urgentes da população.
Além da nomeação do filho para a Secretaria de Saúde, informações obtidas revelam que outros membros da família do prefeito ocupam cargos estratégicos na administração municipal, controlando uma parcela considerável do orçamento. Essa concentração de poder e recursos nas mãos de familiares, independentemente de sua qualificação para as funções, configura um cenário de nepotismo que prejudica a meritocracia e a eficiência da gestão pública.
A prática do prefeito Dailton Filho não se limita à nomeação de familiares no executivo. Nos bastidores políticos locais, comenta-se o descontentamento de antigos aliados e vereadores que perderam espaço e influência na administração. A tentativa de emplacar sua irmã, uma excelente cantora de axé miusic, na presidência da Câmara de Vereadores, é vista como mais uma manobra para consolidar o poder familiar, ignorando a representatividade e a autonomia do legislativo municipal. Essa atitude demonstra uma priorização dos interesses familiares em detrimento da dinâmica política e das expectativas dos seus próprios apoiadores.
A atitude do prefeito, que parece não se preocupar com as consequências políticas de suas ações, dado que recentemente conquistou a reeleição, expõe uma gestão focada em garantir o futuro financeiro da família, mesmo que isso implique em riscos para o bem-estar dos cidadãos de Madre de Deus. A utilização de uma parcela significativa da arrecadação municipal para acomodar familiares em cargos importantes suscita debates sobre a ética e a legalidade dessas práticas, bem como sobre o comprometimento da administração com o interesse público.
A reportagem buscou contato com o prefeito Dailton Filho e seu filho, Rafael Antonius, para obter um posicionamento sobre as nomeações e as críticas à gestão, porém, até o fechamento desta edição, não houve retorno. A falta de transparência e a ausência de justificativas para as decisões tomadas alimentam ainda mais a insatisfação da população e levantam sérias dúvidas sobre o futuro da administração municipal e a qualidade dos serviços oferecidos em Madre de Deus.
Nepotismo é liberado?
Não, o nepotismo é proibido na Bahia, assim como em todo o Brasil. A prática contraria princípios constitucionais, como a impessoalidade, moralidade e igualdade.
Lei estadual
- A Lei Ordinária nº 10.623, de 2007, da Bahia, proíbe a nomeação de parentes de membros do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Tribunal de Contas, entre outros.
Recomendações do MPBA
- O Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA) já recomendou o afastamento de parentes de prefeitas em cargos comissionados.
- O MPBA também recomendou a exoneração de cônjuges e parentes de vereadores em cargos comissionados.
Nepotismo no serviço público
- O nepotismo é vedado no serviço público, tanto direto quanto cruzado.
- O nepotismo cruzado ocorre quando um agente público nomeia um parente de outro agente público, e vice-versa.
- O nepotismo configura ato de improbidade administrativa.
Formulário de declaração de parentesco@
- O governo do estado da Bahia disponibiliza um formulário para que servidores do Executivo Estadual declarem se têm parentesco até o terceiro grau com o governador e vice-governador.
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