Bahia Notícia entrevista uma das maiores autoridades e defensoras das mulheres em Serrinha e região sisaleira, a Promotora Ana Carolina Tavares.
Bahia Notícia: Dra. Ana Carolina, como Serrinha é vista hoje nessa questão da violência contra as mulheres?
Promotora Ana Carolina Tavares: Em Serrinha nós temos um número alarmante de casos envolvendo violência contra mulheres, inclusive que já superou os crimes de Tráfico de Drogas e nós temos também casos emblemáticos e graves de Feminicídio. Tivemos o caso no final de 2017 que chocou toda a comunidade baiana e serrinhense, que foi o caso de Daiane, que foi morta grávida de 9 meses, ela foi enterrada no dia em que ela ia ter o parto cesário, morta pelo próprio marido e outros. Só nesse mês nós teremos 2 julgamentos no Tribunal envolvendo Feminicídio, então realmente Serrinha está ocupando uma posição ruim de destaque, que é desse grande número de casos de violência contra mulheres.
Bahia Notícia: Em muitos casos as mulheres tem medo de ir à Delegacia e denunciar o agressor. O que deveria acontecer nesse caso?
Promotora Ana Carolina Tavares: As mulheres realmente se sentem amedrontadas e por isso nós precisamos fortalecer a rede de proteção as mulheres, através do Centro de Referência de Atendimento a Mulher, precisamos fortalecer também toda estrutura de combate ao crime, as delegacias de combate ao crime contra as mulheres ou os núcles de atendimento da Polícia Civil, fortalecer também as promotorias de atuação e aqui em Serrinha nós também temos um caso específico que nós precisaríamos até de uma 2ª Vara Crime para atender essa demanda grande de crimes.
Bahia Notícia: Os homens não aceitarem o fim de um relacionamento é a principal causa da violência contra a mulher em Serrinha?
Promotora Ana Carolina Tavares: É exatamente isso, o que a gente vê realmente na criminalidade contra a mulher, a esmagadora maioria, envolve relacionamentos amorosos, relacionamentos que as mulheres ainda estão ou ex-relacionamentos. É nesse ambiente familiar e doméstico que a mulher realmente sofre mais a violência.
Bahia Notícia: Já não está mais do que na hora de Serrinha ter uma delegacia de combate ao crime contra a mulher?
Promotora Ana Carolina Tavares: Sim, se a gente não tiver uma delegacia, acho que isso tem a ver com a questão populacional, se Serrinha não abarcar por essa quantidade de população, existe um núcleo de atendimento especializado a esses crimes, que é uma estrutura menor que você contaria com Delegado ou Delegada, com Escrivão e Investigador, uma equipe menor e algumas pessoas no serviço administrativo e aí já atenderia inicialmente essa demanda, que depois se fosse o caso posteriormente instalar uma DEAM.
Bahia Notícia: Muitos delegados hoje não sabem tratar essas questões da violência contra mulher, por machismo, entre outros, deixando as mulheres inibidas, desconfortáveis e constrangidas, levando até a desistências da denúncia que a mulher tinha a fazer. Isso torna essencial que esses assuntos sejam tratados com uma delegada para deixar as mulheres mais confiantes na queixa? Ou você acha que tem homens que também sabem conduzir bem a situação?
Promotora Ana Carolina Tavares: Eu acho que temos que ter Delegacias especializadas, eu já trabalhei com Delegado em Itaberaba, apesar de ser homem ele era extremamente sensível a essas causas, inclusive as mulheres preferiam ser atendidas por ele, então acho que não tem a ver com ser homem ou ser mulher, tem a ver com você estar preparado para lhe dar com aquela demanda, pois a mulher chega ali muitas vezes já amedrontada, vítima de violência, já com medo, então ela precisa de um acolhimento para se encorajar e prosseguir na denúncia. Há muitas vezes que as mulheres comparecem e desistem, pois não encontram um ambiente acolhedor e seguro.
Bahia Notícia: Se ouve falar no município que há ações de violência contra crianças, meninas que são violentadas por padastros, pais, irmãos e vizinhos, existe algum sistema de proteção contra o menor agredido aqui em Serrinha?
Promotora Ana Carolina Tavares: Aqui no município essa proteção é realizada mais pelo CREAS e pelos CRAS. Existem ações voltadas realmente, pois o número de crianças violentadas dentro de casa é realmente assustador, é enorme esse número, então o município atua nessa parte de assistência social e também no MP existe a Promotoria especializada na defesa dos direitos da criança e do adolescente e no Judiciário tem a Vara da infância e da juventude que também atende esses casos.
Matéria: Philippe Peltier
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