O look usado por Janja para a primeira parte da posse de Lula deu o que falar e o que pensar!
Para estreiar como primeira-dama, a socióloga inovou o código de vestuário da solenidade usando blaser acinturado e basque com pantalona, assinada por Helô Rocha.
Através dessa escolha, ela passou um recado revelador: Janja não será uma figura decorativa.
A calça comprida e o cabelo preso funcionam como referências de uma mulher cheia de personalidade. Pelo visto, a diplomacia da roupa vai ser uma marca da primeira-dama.
O terninho parece que continua conectado à luta feminina pelo protagonismo na vida pública e na carreira profissional. Basta lembrarmos de Kamala Harris, que usou um modelo branco, em 2019, quando fez seu primeiro discurso como vice-presidente eleita dos EUA.
Vestir-se é um ato político.
“As roupas não falam, mas comunicam uma série de referências” – essa observação de João Braga, professor e especialista em História da Moda, é um lembrete de que nossas escolhas de vestuário são uma forma de comunicação.
Por isso, gostando ou não do look, a roupa de Janja deve ser vista além da estética, já que o conjunto traz mensagens e representações.
Apesar da denominação como terninho, o look é feminino, atribuindo um sentido de celebração à roupa.
A pantalona é bem fluida, enquanto o blaser tem formas e linhas arredondadas. As três peças em crepe de seda vintage foram tingidas naturalmente com caju e ruibarbo, uma planta medicinal.
O blaser e o colete bordados em fios de palha, uma arte das bordadeiras de Timbaúba (Rio Grande do Norte).
Ou seja, um look que inova além da calça comprida, valorizando a cultura nacional dando protagonismo à cooperativa das bordadeiras que utilizam processos menos poluentes com o tingimento natural do tecido.
O vestido azul, de seda brasileira, segundo look da festa, usado à noite no palácio do Itamaraty, segue também o pilar da sustentabilidade. O modelo, fluido e leve, feito em seda 100% nacional, é uma criação de Helô Rocha em parceria com Rafaella Caniello, da Neriage.
Na solenidade, debaixo de muito sol, Janja optou por rabo de cavalo, destacando o brinco Pitanga, de Flavia Madeira.
Na festa à noite, de cabelos soltos, usou outro par de brincos da designer, agora em prata banhada a ouro e pedras como lápis-lazúli e ágata verde.
Os dois looks da posse confirmam o que Janja já vinha sinalizando: ela pretende prestigiar e divulgar marcas e estilistas brasileiros, focando em designers que trabalham uma moda sustentável, que tem uma cadeia de produção socialmente justa.
Três marcas, além da estilista Helô Rocha, já aparecem como preferidas de Janja. A Misci (Airon Martin), a Neriage (de Rafaella Caniello e Laura Cerqueira Leite) e Ana de Jour (de Ana Paula Figueiredo).
Notei que o caminho de Janja em seu diálogo com a moda é similar ao de Michelle Obama, ex-primeira-dama dos EUA, que rompeu com o preconceito de que gostar de moda torna as mulheres menos cerebrais e fúteis, fato que alavancou a carreira de diversos estilistas.
Janja está mostrando que gosta de moda, que o que ela vestir vai passar mensagens, deixando alicerce que dará mais visibilidade à moda nacional.
“Estou conhecendo mais sobre esse assunto. Tenho conversado com estilistas, aprendido bastante. Quero carregar os estilistas brasileiros aonde for. Mostrar para o mundo, abrir portas de comércio, de oportunidades. Se puder contribuir, vou ajudar”! Janja, para a Vogue).
“Queria vestir algo que tivesse simbolismo para o Brasil, para os estilistas, para as cooperativas e para as mulheres brasileiras”.(Janja, na Vogue)
“A pessoa tem que se vestir como se sente bem. E saber como e para o que está vestida. Obviamente que não vou de jeans e tênis em uma recepção com presidentes”! (Janja, na Vogue)
“A relação com a moda pode ser mais desapegada de protocolos. Não é porque você é deputada que precisa estar de terninho e saia” (Janja, na Vogue).
Será que a Janja do jeans, tênis e camiseta irá sumir? Afinal, estilo pessoal muda junto com a gente, com a nossa rotina e estilo de vida. A Janja dos looks informais deve sim passar por uma transformação em seu vestir, contudo, isso não significa deixar de lado os tênis, que ela já declarou ser seu calçado favorito.
A palavra-chave aqui é dosar o gosto pessoal com sua agenda de compromissos, aqui e no exterior, em que sua roupa, calçados e acessórios terão leituras e significados para o público.
“Uso tênis com calça, saia, shorts. Outro dia, cheguei ao CCBB para uma reunião e estavam todas as secretárias de salto alto. Levantei o pé, mostrei o tênis e disse: está instaurada a democracia do tênis”! (Janja, Vogue).
Sua identidade visual, assim como suas roupas, atitudes, declarações serão avaliados, interpretados, decodificados.
Ter uma imagem autêntica, de acordo com seu novo momento de vida, passa inevitavelmente por mudanças no guarda-roupa.
Aos 56 anos, espero que ela seja uma inspiração para nós, mulheres, pois muitas de nós ainda nos sentimos intimidadas para usar determinadas roupas por causa da idade e do corpo, por exemplo.
Nos inúmeros comentários que li sobre os looks de Janja, algumas pessoas desaprovaram o ‘terninho’, alegando que a primeira-dama não era “magra” o suficiente para usar aquele tipo de roupa. Gente… isso é inadmissível no mundo contemporâneo! Já perdi a conta de clientes da consultoria de imagem com esses dilemas.
Não é fácil ajudar uma cliente refém de tantas convenções, regras e limites sobre o vestir e estilo pessoal. Por isso, proponho que se você ainda tem essas crenças limitantes, abandone-as, respeitando a sua essência e no seu tempo!
E você, gostou dos looks e da intenção da primeira-dama ao usá-los? Comenta aqui!
Um beijo!
Tati Peltier: Colunista de Moda, Beleza, Entretenimento Fashion e Editora da Coluna Casa em Harmonia.
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